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Quando o dilema da licença maternidade não existe!

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Esta é a história de Tomás e sua família. Tomás tem 2 anos e é filho de Elisa e Henrique. Até completar 1 ano, o pequeno Tomás ficou sob os cuidados da mãe, que teve sua licença maternidade garantida por lei e pôde, assim, dar atenção a seu filho em um ano tão importante da vida dele.

Durante esse primeiro ano, Elisa contou com a ajuda de seus pais e dos avós paternos de Tomás. Elisa também contou com a assistência do grupo de mães de seu bairro. Foi a encontro de bebês, fez amizades, trocou experiência com outras mães.

Teve, de fato, uma rede de apoio para os primeiros meses da nova vida como mãe, quando, apesar de termos a companhia do bebê durante o dia todo, sentimo-nos muito solitárias.

Quando Tomás completou 1 ano, Elisa e Henrique o matricularam na creche cooperativa do bairro onde vivem. A creche, em funcionamento em caráter experimental, é parcialmente financiada pela prefeitura da cidade e cobra uma pequena mensalidade para cobrir uma parte das despesas. Mas o auxílio da prefeitura e as mensalidades não são suficientes.

O funcionamento da creche somente é viabilizado porque parte da mão de obra vem dos próprios pais dos alunos. Uma vez por semana, a mãe (ou o pai) de um aluno cumpre seu expediente na creche, auxiliando a professora no cuidado com as crianças. Os pequenos adoram. Ficam por lá somente durante a manhã e sempre têm a companhia do próprio pai, da própria mãe ou dos pais dos amiguinhos.

Quando não está na creche cooperativa, Tomás fica em casa com seu pai ou sua mãe, que se revezam para cuidar do filho.

Vocês devem estar se perguntando: como Elisa e Henrique conseguem conciliar os empregos, o trabalho na creche do filho e os cuidados com Tomás em casa? Elisa e Henrique trabalham somente seis horas por dia cada um. Ambos trabalham em uma empresa que decidira inovar alguns anos antes, reduzindo a carga horária de seus funcionários e contratando mais pessoal para dar início a um projeto piloto de partilha de postos de emprego. O gerente de projetos, por exemplo, deixou de gerenciar quatro projetos e passou a gerenciar somente dois. Os outros dois foram alocados ao gerente contratado para a partilha de trabalho.

É verdade que a redução da carga horária veio acompanhada de uma redução de salário. Elisa e Henrique ficaram um pouco apreensivos no início, mas hoje em dia acreditam que a redução de salário deu a eles mais qualidade de vida.

Cortaram vários supérfluos como TV a cabo, venderam os carros e passaram a se locomover de bicicleta ou ônibus e, quando necessário, de táxi, viram os gastos com supermercado despencarem, já que passaram a ter tempo para preparar comida fresca em vez de comprar os congelados industrializados, nada saudáveis e muito caros, dos quais dependiam no passado. E, consequentemente, deixaram de pagar uma pequena fortuna por uma creche tradicional em tempo integral, opção da qual não teriam como escapar caso ainda estivessem dedicando suas vidas quase que somente ao trabalho.

O mais importante, no entanto, é que Elisa e Henrique, mesmo mantendo um emprego bacana, criaram mais tempo livre em suas vidas e estão acompanhando de perto a vida do pequeno ser humano que eles trouxeram ao mundo juntos e que, ao contrário de muitos pequenos mamíferos, precisa de atenção e cuidado constantes durante vários anos para se desenvolver plenamente.

O texto acima é fictício e reconheço que bastante utópico. Decidi escrevê-lo como um exercício de reflexão, na tentativa de mostrar que existem potenciais alternativas à polarização ‘largar a carreira para cuidar dos filhos’ ou ‘voltar a trabalhar em tempo integral depois da licença maternidade e não poder acompanhar o crescimento dos filhos de perto’. Creches e pré-escolas cooperativas são realidade em alguns lugares do mundo (a cidade onde moro, Washington DC, é uma delas). A partilha de postos de trabalho já é adotada em algumas empresas. Somos todos vítimas de uma sociedade na qual se trabalha demais. Precisamos refletir e discutir a questão do equilíbrio entre trabalho e criação de filhos.

(texto escrito em 2014 e publicado originalmente no portal Maternarum)


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